Thursday, April 10, 2008

O Vergonhoso Drama do Tibete

O VERGONHOSO DRAMA DO TIBETE
De: LusoConde

O território do Tibete consiste num enorme planalto, um dos mais altos do
mundo, em parte semi-gélido, com quase dois milhões de quilómetros quadrados
( quatro vezes maior do que países como a França ou a Espanha). A população,
todavia, ronda os três ou quatro milhões de habitantes apenas. Quase espanta
ver como pode ser uma tão inóspita região alvo de tantas cobiças.
Os mais antigos tibetanos pertenciam a um povo denominado "Shen". Cerca
de 1063 antes de Cristo, o Tibete era unificado por um rei semi-lendário,
Shenrab Miwo, e o primitivo animismo religioso dava origem a uma nova fé,
denominada religião Bon. Alguns séculos depois, já destroçada tal
unificação, um reino tibetano de nome Bod tornou-se importante, ao ponto de
Bod ser o nome indígena do território tibetano nos nossos dias.
Em 127 antes de Cristo, o Tibete era de novo unificado por Nyatri Tsenpo.
O calendário tradicional tibetano tem aí o seu início.
O "tecto do mundo"(nome por que é conhecido por vezes o Tibete) teve
também uma fase guerreira e conquistadora entre 629 e 842 (depois de Cristo,
logicamente), atacando os seus vizinhos. Houve exércitos tibetanos na Índia
(Bengala). por exemplo.
É no século VIII que o Budismo se torna dominante na Região, não sem
várias lutas. Entre 842 e 1247, O Tibete encontrava-se dividido entre vários
estados rivais, e o seu expansionismo nada mais era que uma recordação.
Dirigentes budistas, depois, governaram um país reunificado a partir de
1254. Os mongóis invadiram o território, mas este, após uma formal aceitação
do seu domínio, foi vivendo independente... principalmente depois que os
mongóis perderam os seus domínios. Os chineses "Ming" (1368-1644) não se
interessaram significativamente pelo Tibete.
Todavia, em 1644, a China passou a ser governada por um povo guerreiro e
conquistador, os manchus, que, embora, com o tempo, se fossem confundido com
os conquistados (muitíssimo mais numerosos do que eles), expandiram as
fronteiras da China até à Mongólia, ao Sinquião, ao Tibete (1724), e a
outros territórios ainda (Nepal, Birmânia, etc.). Os tibetanos, todavia,
resistiram, e várias vezes os manchus tiveram de retirar... bem como outros
invasores de menor importância.Em 1792, o exército chinês impôs a presença
de um "residente" manchu como protector, mas o seu domínio foi sempre
contestado, sucedendo-se as revoltas, as expulsões, e as novas intervenções
de Pequim. Na prática, o País era independente. Por volta de 1876 até os
britânicos, vindos da Índia, alcançaram o território, e chegaram, em 1904, a
invadi-lo... sem que Pequim reagisse!
A China encontrava-se então em decadência. Os europeus, a que se juntaram
depois os japoneses e os norte-americanos, ocupavam os seus portos e
esploravam as suas riquezas. Foi um período triste e humilhante, em que
fazer "um negócio da China" significava enriquecer rapidamente ( e à custa
dos chineses).
Em 1911, o Tibete proclamou a sua independência total, derrotando depois
uma expedição enviada por Pequim. O mesmo fez a Mongólia Exterior (a actual
República da Mongólia). Pequim, de qualquer forma, pareceu ter-se
desinteressado por aquele planalto, mantendo sob o seu domínio directo
apenas uma parte dele (a província de Tsing.-Hai, ou Koukou-nor, ou Amdo),
que não era pois administrada pela capital tibetana, Lhassa. Note-se que,
desde o mesmo ano de 1911, a China se tornara uma República, tendo acabado o
domínio Manchu.
Como se sabe, desde 1949 a China transformou-se numa República Popular.
Os novos dirigentes chineses, à frente dos quais se encontrava o mítico
Mao-Tse-Tung (Mao-ZeDong), tudo fizeram para mostrar que o Povo Chinês tinha
reencontrado a sua independência, a sua dignidade, e que... era de novo
possuidor de um governo central poderoso. Logo em 1949, o Tibete Oriental
(Tchamdo ou Chamdo) foi ocupado pelas novas autoridades, ao que se seguiu o
resto do Tibete ( 9-Setembro-1951). Foi respeitada, em teoria, a autoridade
do Dalai Lama (expressão que significa algo como "Grande-Sacerdote"),
mediante um estatuto de autonomia especial..
Todavia, o ressentimento dos tibetanos foi crescendo, mesmo porque, ao
que parece, a China pouco respeitava o citado estatuto. Assim, em 1959,
surgia uma revolta, dominada com rudeza por Pequim. O Dalai-Lama teve de
fugir para a Índia, e a China nomeou um fantoche para o seu lugar. Mais de
200 000 tibetanos o seguiriam.
A propaganda chinesa apresentava o Dalai-Lama como um dirigente
teocrático, não-democrático, uma vez que não era eleito, como o
representante de uma casta de monges que exploravam a ignorância do povo,
como o símbolo de superstições. Em alternativa, propunham-se levar a
Revolução Socialista ao Tibete... embora respeitando os costumes locais ao
ponto de permitir a existência de mosteiros budistas.
Na verdade, este tipo de discurso convenceu muita gente, e ainda hoje tem
os seus adeptos. Contudo, a História mostrou-nos que, por muito boas que
possan ser as intenções de "invasores esclarecidos" (recordamos, por
exemplo, as invasões francesas en Portugal, ou as ocupações coloniais,
"civilizadoras", em África e noutros continentes, nos séculos XIX-XX... para
já não falar do recente exemplo da invasão do Iraque), essas invasões "bem
intencionadas" provocam efeitos perversos. Em primeiro lugar, despertam o
ressentimento e o ódio dos "invadidos". Em segundo lugar, destroem
bruscamente modos de vida tradicionais, impedindo cada povo de evoluir por
si próprio. Em terceiro lugar, escondem outras intenções. No caso do Tibete,
populações chinesas tâm sido levadas para o território, ocupando a maioria
dos postos de comando...e ajudando a modificar a composição étnica do País.
O resultado prático de tudo isto é ódio, ódio, e sempre mais ódio.
2008 viu isso mesmo. Tibetanos enfurecidos a rejeitar tudo o que seja
chinês. Pequim a aumentar a repressão, e a intensificar a destruição da
cultura indígena.
Tudo isto por 1 228 400 Km.2 de território inóspito (mais uns 900 000
Km.2, se quisermos considerar territórios tibetanos administrados por outros
enquadramentos), menos de 3 000 000 habitantes (2,2 habs/Km.2), por um
território, afinal, que só foi chinês por conquistas "imperiais". Tudo isto,
repita-se, por uma contraditória política chinesa, que se orgulha de ter
libertado a China "dos tempos da exploração imperialista dos europeus e dos
seus aliados, os Imperadores Manchus", mas que não parece compreender o
princípio básico do Direito de cada povo dispor de si mesmo (para já não
falar dos Direitos Humanos na própria China). E que se reclama herdeira do
expansionismo territorial dos ditos Manchus! Será que Pequim vai reclamar
mais territórios?
Na verdade, a comunidade internacional tem de criar mecanismos que
permitam intervir nestes casos, impondo-se,entre outras coisas, a revisão
urgente das regras de funcionamento da ONU.E, já agora, registe-se com
repulsa a reacção da Comunidade Internacional, e até de destacadas figuras
da política mundial tão rápidas a defender os Direitos Humanos em certas
ocasiões e a menosprezá-los noutras!
Infelizmente, os tibetanos estão entregues a si próprios, abandonados pela
Comunidade Internacional, e sujeitos a um ocupante que despreza os seus
direitos. Estes casos, e infelizmente a história está farta de nos provar
isso, não podem ser resolvidos através da resistência passiva! Os tibetanos
têm essa amarga experiência dos últimos cinquenta anos, e é necessário que
criem um movimento de resistência armada, que inevitavelmente, tal como
aconteceu e acontece com outras organizações de resistência, vai ser
apelidada de organização terrorista pelos ocupantes e pelos políticos
hipócritas...

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